Insônia
- Raissa Hadad
- 12 de mar.
- 2 min de leitura
Atualizado: 4 de jun.

A impossibilidade de dormir é um dos sintomas que mais interpelam sobre a verdade psíquica do sujeito. Ao desdobrar a insônia é possível entender que este é um sintoma dos valores e do modo de viver da vida moderna, que tem influência direta em nosso psiquismo, e por isso é uma queixa tão recorrente.
Se a dificuldade em dormir ou em manter o sono fosse realmente um problema de raízes biológicas somente, os fármacos já o teriam resolvido. O sono está implicado em contextos psicológicos e sociais. A maioria dos casos de insônia ocorre como consequência a outros aspectos da vida, que muitas vezes são psíquicos, como a ansiedade e o medo do amanhã.
A insônia pode ser vista como uma insistência da mente em se manter ativa e alerta, pois dormir implica necessariamente em estar vulnerável. O que faz com o que uma pessoa se recuse a se colocar nessa posição de vulnerabilidade é uma investigação possível na terapia. Outro entendimento necessário é quanto ao conteúdo, à relevância e à urgência dos pensamentos que ocorrem durante a luta contra a insônia.
Dormir implica em sonhar, logo a impossibilidade de dormir significa também a impossibilidade de sonhar. Os sonhos, por sua vez, estão carregados de subjetividade e é impossível escapar ao que reclamam. Ainda que misturados com aspectos da vida de vigília eles trazem questões pessoais e íntimas cheias de afeto.
Somam-se ainda os aspectos sociais e culturais implicados na insônia. A produtividade e o consumismo que caracterizam o cotidiano contemporâneo são fatores que afastam o ser humano de sua essência. Vai ficando cada vez mais difícil olhar para si e o sentimento de vazio toma conta, levando a um ciclo vicioso aonde o sujeito tenta preencher esse vazio e distanciamento de si com mais produtividade e consumismo.
Aos insones resta se conciliar com os afetos que a mente inquieta insiste em trazer, ou esconder, e reaprender a fazer a transição entre estar acordado e estar dormindo.
Referências
PEREIRA, Mario Eduardo Costa. A insônia, o sono ruim e o dormir em paz: a “erótica do sono” em tempos de Lexotan*. Revista LatinoAmericana de Psicopatologia Fundamental, ano VI, n. 2, jun. 2023, p. 126-144, dez. 2002. Disponível em:
chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.scielo.br/j/rlpf/a/6wxz5N5bpRCpKCBG5L5m5hL/?format=pdf&lang=pt
DUNKER, Christian. Insônia e terror noturno. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TDl9baFopYU