Borderline
- Raissa Hadad
- 6 de nov. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 7 de abr.
O transtorno de personalidade borderline desregula bruscamente as emoções e faz isso de forma contínua. A pessoa enxerga o mundo sempre através das lentes do transtorno. Quem convive com alguém nessa condição pode perceber sintomas no cotidiano.
Os sentimentos são extremos e o que poderia ser apenas embaraçoso, é sentido como uma humilhação profunda, bem como um desagrado é sentido como ódio. Um estímulo pequeno é o suficiente para provocar reações intensas e crises de fúria, que assustam quem está em volta. A pessoa é tão sensível quanto alguém que nasce sem pele, nesse caso, sem uma pele emocional.
Os sentimentos primitivos prevalecem, e ainda que um sentimento envolva muitas variáveis, o borderline tende a simplificar tudo como raiva e é isso que ele acaba expressando de forma descontrolada. Uma boa ilustração é uma situação de ciúme. O saudável é ter autocontrole pelo menos o suficiente para conseguir se afastar um pouco do ciúme e pensar em tudo que está envolvido na situação. Dessa forma é possível ter mais perspectivas, enxergar o que é nosso e o que é do outro e tomar atitudes menos impulsivas. O borderline não tem esse autocontrole, e por isso sentimentos primitivos como a raiva e o medo acabam o tomando por inteiro.
Um borderline é como uma criança no corpo de um adulto. Não sabe esperar, não aceita frustração, é impulsiva, simplifica as coisas como boas ou más, e tenta conseguir o que quer a todo custo. Isso tudo torna muito difícil sua adaptação em relações mais complexas. O poder de destruição das relações pessoais é grande.
A agressividade vem como consequência do constante medo de ser abandonado e da frequente sensação de ameaça somados à extrema sensibilidade afetiva. A agressividade é na verdade uma resposta defensiva e a terapia deve facilitar que o borderline entenda essas defesas, o ajudando a enxergar as nuances dos seus sentimentos e a expressá-los com a devida complexidade, bem como a encontrar meios mais funcionais e construtivos de se defender.
Um ciclo vicioso se forma: o sujeito tem tanto medo de ser abandonado que ao tentar evitar essa rejeição não consegue se vincular a ninguém. E as pessoas à volta de um borderline muitas vezes também resistem a esse relacionamento, pois sentem que estão o tempo todo pisando em ovos. Qualquer fala ou ação podem ser interpretados como um abandono.
O sentimento crônico de vazio também é parte do quadro e pode ser relacionado com o comportamento inconsequente e impulsivo e com a necessidade de perturbação do ambiente, ambos como uma solução ao vazio e ao tédio. A partir disso temos uma dimensão concreta da falta de recursos psíquicos do sujeito borderline, que procura fora de si meios de aliviar seu sofrimento.

Referências
CUKIER, Rosa. O paciente borderline e o psicodrama. Disponível em: https://rosacukier.com.br/o-paciente-borderline-e-o-psicodrama/
Ribeiro A, Ribeiro JP, Silva RR, Doellinger Ov. "Um insuportável vazio" - falso self e a organizaçao borderline da personalidade, a partir de um caso clínico. Rev. bras. psicoter. 2016;18(3):45-54. Disponível em: http://rbp.celg.org.br/detalhe_artigo.asp?id=212
Silva MR, Steibel D, Campezatto PvM, Sanchez LF, Barcellos ED, Fernandes PP. Andando na corda bamba: desafios técnicos do atendimento de pacientes borderline. Rev. bras. psicoter. 2016;18(1):13-22. Disponível em: http://rbp.celg.org.br/detalhe_artigo.asp?id=187